Pedro Nuno apropria-se do costismo. "Nós fizemos"

Na tentativa de colar o PS a uma imagem de estabilidade têm valido dois argumentos: a capacidade política negocial e também a capacidade de gerir crises. Os dois têm sido trazidos por Pedro Nuno Santos diretamente desse passado costista até aos dias de hoje. E nos últimos dias, com especial incidência a questão das crises.
A dada altura da campanha, o líder do PS até passou a dar mais peso nas suas intervenções e esta mesma questão, em vez da questão ética do primeiro-ministro. A intenção era levantar o risco que tem especial impacto junto dos eleitores: o risco de uma nova crise económica e, com isso, a ideia de incapacidade da AD em resolvê-la. E que exemplos foi buscar para argumentar com esta tese? A gestão da pandemia e também a resposta à crise inflacionista.
São dois momentos que apanharam o PS no poder e já não é a primeira vez que isso e aproveitado numa campanha eleitoral. Em 2022, numas legislativas também antecipadas, António Costa fez disso um pilar dessa campanha, destacando a resposta do Governo à crise sanitária a cada esquina e fazendo render o salto de popularidade para si mesmo que essa crise significou — acabou por ter maioria absoluta nessas eleições.
Pedro Nuno Santos vira o disco: o medo da crise toca mais do que o medo de Montenegro
O tema volta a ser usado, agora por Pedro Nuno Santos que, ainda esta quarta-feira à noite, no comício da Aula Magna, lembrou essa fase para dizer que “foi com o PS, com a Marta Temido, com a Mariana Viera da Silva, com a Graça Freitas, com António Costa, que nós ultrapassamos juntos a pandemia”.
É o exemplo que surge à cabeça para promover a imagem de um PS “capaz de responder às crises”, como contraponto a uma AD que o socialistas diz não ter dados provas de ter a mesma capacidade, recorrendo a exemplos recentes, como a gestão da crise do apagão ou a do INEM, para o provar.
Já quanto à questão da crise inflacionista, que surgiu na sequência da guerra da Ucrânia, Pedro Nuno Santos tem usado sobretudo uma das respostas temporárias de Costa, que no seu programa transformou em medida permanente: o IVA zero no cabaz básico alimentar. E se no seu programa eleitoral a guerra das tarifas dos EUA era uma ausência, depressa transformou a medida do IVA numa “resposta preparada” para a eventualidade de uma nova crise inflacionista que possa vir a decorrer da concretização da ameaça por Donald Trump.
Pós-troika. “Foi com o PS que se ultrapassou a austeridade”É também na mesma lógica do ponto anterior que Pedro Nuno Santos vai até aos oito anos socialistas para de lá trazer o que pode usar nesta campanha a seu favor. Pega na troika, agita-a no ar, com outra forma — a de “clima de incerteza económica no horizonte” — e lembra a resposta socialista que descreve genericamente como de “reversões”.
Esse caminho foi traçado a partir do Governo da “geringonça”, em que Pedro Nuno Santos se refere quase sempre ao “nós” para descrever a abordagem socialista que compara à resposta de “austeridade” que os partidos que agora estão na AD aplicaram quando governaram em tempo de ajuda externa. Na Figueira da Foz lembrou mesmo que a forma dos partidos da AD “lidarem com crise é infligindo sofrimento ao povo. Foi com o PS que conseguimos ultrapassar a austeridade“.
Na Aula Magna, falou num todo “em conjunto, sob a liderança de António Costa que conseguimos ultrapassar a austeridade, de Passos Coelho e de Luís Montenegro”. E depois puxou o tema a vários “nós”: “Nós provámos que a nossa política era a que tinha sucesso. Nós mostrámos que era possível repor salários, repor pensões e mesmo assim ter economia a crescer e as contas equilibradas. Nós provamos que a austeridade era errada, não só fazi amal aos pessoas, aos partidos, mas era errada”.
Em Vila Real, dias antes, também já tinha sublinhado que foi “com o PS que o país conseguiu ultrapassar a austeridade e recuperar rendimentos, pensões e salários. Foi com o PS que se ultrapassou a austeridade”, garantiu mais uma vez. Do outro lado da barricada aponta não só o perigo da AD como da “coligação radical” com a IL que vai apontando como uma “ameaça do Estado social”.
Contas certas no tiro à ADÉ uma das balas mais vezes disparada. Afinal o PS tinha bem colado a si o selo de “despesista” desde o pedido de assistência externa em 2011, pelo Governo PS liderado por Sócrates. António Costa fez disso um ponto de ataque da sua era e a dada altura da governação hasteou a bandeira das “contas certas” que ainda esta segunda-feira, num comício em Coimbra, era lembrada por Isabel Soares que falou nas “contas certas de que outros se estão a apropriar”.
No entanto, Pedro Nuno Santos tem dito uma coisa diferente, dando a entender que a AD está antes a desbaratar essa conquista do costismo. Começou na crítica a um governo da AD que “gastou todo o excedente” e terminou, durante esta campanha, na acusação de um executivo que está a “travar a economia” e, com isso, estar a pôr em risco as contas futuras.
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